Suspensão das aulas leva pais a pedirem desconto a escolas

27

mar | 2020

Suspensão das aulas leva pais a pedirem desconto a escolas

Escolas estão fechadas, mas custos continuam Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo

 

Algumas instituições já oferecem abatimento de até 15%. Empresários afirmam que custos foram mantidos

A suspensão de aulas, uma das medidas para conter o avanço do coronavírus, e a insegurança crescente sobre o impacto da crise nos orçamentos das famílias estão levando pais e escolas particulares a renegociar mensalidades. Algumas instituições já ofereceram descontos de até 15%.

A negociação é mais frequente para alunos em regime integral, que agora estão em casa. Mesmo sem aulas presenciais, não há obrigação de redução dos valores, já que, segundo apontam representantes das escolas, custos fixos com pessoal e imóveis não foram reduzidos.

A professora universitária Lara Vaccari, que tem a filha Surya, de 5 anos, matriculada no Colégio Andrews, e o filho Bernardo, de 2, numa unidade da Maple Bear, no Rio, procurou as duas instituições para saber da possibilidade de desconto.

O Andrews avisou que está calculando seus custos para avaliar se pode rever a mensalidade. A Maple Bear informou que beneficia quem tem um segundo filho na escola, em horário ampliado.

Mobilização dos pais

Um grupo de pais de alunos da Escola Parque, na Gávea, pediu desconto na mensalidade afirmando que muitos experimentam queda na renda enquanto a instituição estaria reduzindo gastos variáveis com aulas on-line. A escola atendeu ao pedido. Reduziu em 15% a próxima mensalidade, em torno de R$ 3 mil, e vai compensar nos próximos meses.

— Muitos pais são comerciantes, profissionais autônomos. Todos estão tendo menos lucros. As escolas têm que pensar que também devem ter — diz Soraya Alves, médica que tem um filho na escola.

No Colégio São Vicente de Paulo, no Cosme Velho, um grupo de pais também enviou uma carta à direção pedindo desconto. A diretoria respondeu que está “consciente das demandas financeiras que se impõem às famílias” e que está estudando a revisão da mensalidade momentaneamente.

Algumas instituições se anteciparam. A rede Eleva anunciou desconto de 12% na mensalidade enquanto durar o ensino à distância. O Futuro Vip não divulgou o percentual, mas confirmou redução mesmo com gastos com ensino on-line.

A rede Pensi diz estar analisando a situação, mas também destaca custos extras com aulas pela internet. O Colégio Cruzeiro, no Centro do Rio, abaterá em 50% das taxas pagas por atividades extras e horário integral.

Em São Paulo, o Bandeirantes, num comunicado aos pais dos alunos, ressaltou que professores e funcionários representam 65% do custo, o que impede redução nas mensalidades.

A Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) recomendou ontem que os pais não peçam descontos nas mensalidades, já que se trata de um parcelamento definido em contrato para a prestação de serviço anual, desde que as escolas ofereçam posterior reposição ou ensino à distância.

Na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), um projeto está em tramitação para obrigar escolas particulares a reduzirem mensalidades em ao menos 30% enquanto durar o plano de contingência do coronavírus. Em entrevista ao GLOBO, Chaim Zaher, controlador do Grupo SEB (dono das redes Pueri Domus, Mapple Bear e AZ), criticou a proposta:

— É inconstitucional. E os nossos custos não mudaram, os professores continuam trabalhando, mesmo de casa. Não estamos abandonando os pais. Estamos sensíveis e flexibilizando algumas condições.

Entidades que representam o setor, como o Sinpro-Rio, a Feteerj e o Sinepe-RJ, também se manifestaram contra o projeto de lei na Alerj.

Para elas, o projeto acentuaria a situação de vulnerabilidade dos estabelecimentos de ensino, grande parte empresas de pequeno porte. Em nota, afirmaram que “quaisquer atitudes e ações de alteração de contratos podem fragilizar as relações trabalhistas entre os profissionais de Educação das escolas privadas e seus empregadores”.

O presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep), Ademar Pereira, diz que a necessidade de manter o pagamento de professores, funcionários, impostos e manutenção de prédios impede os descontos:

— Estamos orientando que os pais procurem pagar a escola para ela não quebrar, pois ele vai precisar dela assim que as coisas voltarem ao normal. Portanto, acho que a hora é de ficar junto, ajudar, colaborar.

 

Fonte: https://oglobo.globo.com/ 

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